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DESIGN DINAMARQUÊS

O design está para a Dinamarca como a música - ou o futebol - está para o Brasil. Mas pra entendermos isso um pouco melhor, vou te contar umas coisas. Senta que lá vem história. E é maior que um post. Rogerinho Santos, meu professor de História da Arte na UFOP, repetiu tanto que eu decorei: toda e qualquer representação artística ou de design deve ser entendida dentro do contexto histórico-sócio-econômico-cultural. Então vamos desenhar esse contexto?
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Não há guerra sem traumas, e a II Guerra Mundial certamente foi rica deles. Com o seu fim, o sentimento comum era de necessidade de renovação. A Europa devastada sofria as conseqüências da guerra, e os europeus estavam interessados em novos produtos, que não lembrassem os rebuscados ideais burgueses do período anterior, e que pudessem ser produzidos em série, e ainda: que fossem mais baratos. A Dinamarca nunca foi particularmente rica ou marcada por diferenças de classes*. E a política social-democrata apoiou sempre uma produção de pequena escala. Neste contexto os artesãos se tornaram designers**, e os designers se tornaram educadores, apontando para valores como utilidade e seriedade, e tendo em mente que – para eles – o bom gosto é sinônimo de modéstia. Portanto, resumindo, o design dinamarquês foi desenvolvido a partir do artesanato local, em uma produção organizada, e visando um mercado consumidor internacional. Capice?
Repare bem as peças da foto acima. Todas têm desenhos curvos, orgânicos, humanos, naturais. Até os nomes reafirmam este conceito: luminária alcachofra, cadeira ovo, cadeira formiga. E, com a atenção fixada nestes detalhes, estes produtos parecem todos vindos de um mesmo forno, não é? E são mesmo. Todas essas peças foram produzidas por designers dinamarqueses no pós-guerra. E todos esses designers foram educados em uma única escola de design: a "Escola Klint".
ESCOLA KLINT
 
Peças representativas da Escola Klint
A "Escola Klint" foi fundada em 1924 por Kaare Klint, que era chefe de um pequeno grupo de professores e marceneiros, e foi um projeto modernista não radical do pós-guerra, criado em oposição a decoração rebuscada e aos antigos meios de produção (repito-me intencionalmente). Os professores eram práticos e pragmáticos, e formaram pelo menos três gerações de designers. A ênfase estava no mobiliário, mas a arquitetura, a cerâmica, o vidro e os têxteis também se beneficiaram. Mesmo com o apelo da estética industrial da época, havia na Escola Klint o entendimento de que estética industrial pura era uma ameaça ao humanismo, e a obrigação deles era a de equilibrar demandas industriais às necessidades humanas. Esta atitude com relação à produção, à natureza e ao consumidor indica bastante a base política dessa escola. Havia uma crença de que todos tinham direito a objetos bonitos e que influenciassem na qualidade de vida, sendo confortáveis e ergonômicos. (A’lá o hedonismo solidário...)
No início dos anos 50, as cadeiras de madeira moldada dos americanos Charles&Ray Eames incentivaram Arne Jacobsen a projetar a famosa Ant, a primeira cadeira dinamarquesa a ser fabricada industrialmente. Ufa! Amanhã passearemos pela casa de um casal de designers dinamarqueses, combinado? *Eu acredito que, se os ideais socialistas-marxistas funcionaram em algum lugar, foram exatamente onde não eram “ideais”, mas realidade. E onde o estado não era dominante, mas necessário e organizado. Mas isso não é uma discussão pra esse blog. **E, sem aprofundar e nem ser muito radical, qual a diferença entre o artesão e o designer? O projeto e a produção em escala. Veja também: Profumo affair.
DESIGN DINAMARQUÊS Reviewed by vivianne pontes on 13:07 Rating: 5

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