POLTRONA MOLE
"Foi em 61, creio eu, a consagração Internacional da Poltrona Mole. Conhecendo o longo trabalho de criação e confecção da peça, sempre me referia a ela, falando ou escrevendo, como A Poltrona Que Não Foi Mole. Nos livros Internacionais de crítica especializada é chamada de Sheriff (não parece tradução de filme de televisão?). Vou me lembrando de Sergio e suas circunstâncias, e escrevendo ao correr da pena. Mas não lembro tudo nem escrevo tudo. Que sei eu de arquitetura?
Bem,vai ver,tudo. Sei de morar, sei de dormir, sei de sentar. De morar sei que devo estar sempre de frente para o mar, olhando para a montanha, e, no Rio, clima tropical,de cara pro nascente. De dormir. Só durmo com os pés da cama voltados para a porta principal de onde pode penetrar o Mal. Embora em minha vida só tenha penetrado o Bem, depois de premir o leve tímpano do seio, que leva direto ao coração.
E de sentar, aprendi sentando em areia (de Ipanema), sentado em banco (de Liceu), e evitando sentar em cadeira de Bauhaus (Gropius mereceu terminar a vida com aquela chata da Alma Mahier).
Ainda de sentar. Eu tinha concluído que, como a bunda não vai se modificar no próximo milênio, os arquitetos de móveis tinham que criar a partir dela (ou delas, se considerarmos a duplicidade dessa singularidade anatômica). Foi aí que o talento estético de Sergio Rodrigues veio ao encontro do meu bom senso e exigência de conforto e, inesperadamente, empurrou embaixo de mim a já citada Poltrona Mole. Onde não me sentei. Deitei e rolei. Que artefato meus amigos! Uns dizem que é slouchingly casual, outros que antecipou a Bossa Nova, Sergio Augusto afirma que é um móvel em que a pessoa se repoltreia, e Odilon Ribeiro Coutinho que "tem o dengo e a moleza libertina da senzala". Sei lá. Pra mim, essencialmente couro, foi natural curtição. Anatômica, convidativa, insinuante. Atração fatal. Sharon Stone. É prazer sem igual sentar-deitar numa e ficar olhando em frente, uma outra da Bauhaus. Melhor, uma outra Mole."
Texto do Millôr, sobre a poltrona Mole, de Sergio Rodrigues.
Bem,vai ver,tudo. Sei de morar, sei de dormir, sei de sentar. De morar sei que devo estar sempre de frente para o mar, olhando para a montanha, e, no Rio, clima tropical,de cara pro nascente. De dormir. Só durmo com os pés da cama voltados para a porta principal de onde pode penetrar o Mal. Embora em minha vida só tenha penetrado o Bem, depois de premir o leve tímpano do seio, que leva direto ao coração.
E de sentar, aprendi sentando em areia (de Ipanema), sentado em banco (de Liceu), e evitando sentar em cadeira de Bauhaus (Gropius mereceu terminar a vida com aquela chata da Alma Mahier).
Ainda de sentar. Eu tinha concluído que, como a bunda não vai se modificar no próximo milênio, os arquitetos de móveis tinham que criar a partir dela (ou delas, se considerarmos a duplicidade dessa singularidade anatômica). Foi aí que o talento estético de Sergio Rodrigues veio ao encontro do meu bom senso e exigência de conforto e, inesperadamente, empurrou embaixo de mim a já citada Poltrona Mole. Onde não me sentei. Deitei e rolei. Que artefato meus amigos! Uns dizem que é slouchingly casual, outros que antecipou a Bossa Nova, Sergio Augusto afirma que é um móvel em que a pessoa se repoltreia, e Odilon Ribeiro Coutinho que "tem o dengo e a moleza libertina da senzala". Sei lá. Pra mim, essencialmente couro, foi natural curtição. Anatômica, convidativa, insinuante. Atração fatal. Sharon Stone. É prazer sem igual sentar-deitar numa e ficar olhando em frente, uma outra da Bauhaus. Melhor, uma outra Mole."
Texto do Millôr, sobre a poltrona Mole, de Sergio Rodrigues.
POLTRONA MOLE
Reviewed by vivianne pontes
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