MODA E DECORAÇÃO, TUDO A VER?
Tendência. Tenho antipatia dessa palavra. Mas como evitá-la? Na verdade a tal “vontade natural irrefletida no subconsciente, que se transforma em um comportamento com ou sem a devida consciência do indivíduo” só é antipática quando vira chiclete, música repetida sem reflexão. Se refletirmos sobre ela, passa a ser rica de história e de contexto. Então ‘bora refletir comigo?
Acho que nunca vou me cansar de tijolinhos pintados de branco e pisos de madeira. Certos gostos vêm de uma época em que não se tem tantas influências externas, só o tacito quodam sensu*. Mas é fato que as novas tendências em design de interiores muitas vezes vêm da última semana de moda, e isto é muito natural ♫. Afinal a matéria prima base é a mesma: tecidos, cores e estilo.
A moda tem o casulo das estações, que a impõe no mínimo 4 metamorfoses por ano. Se isso passou a acontecer com a decoração, os motivos vão desde o aumento populacional** ao aumento da velocidade de troca de informações. O nude das passarelas de ontem se transformou nos tons naturais e terrosos das paredes e estofados das mostras de decoração deste ano (embora no caso das mostras de decoração seja apenas mais do mesmo).
Mas pensemos em algo menos óbvio que o bege, a estampa pied de poule (ou houndstooth). Foi só Alexander McQueen colocar o xadrez favorito de Eduard VIII na passarela, que a estampa clássica pegou fama de rebelde, e pronto! Invadiu a decoração. (Até pelas mãos dele mesmo, o falecido enfant terrible, que reinventou a cadeira Egg.) E se na decoração mais moderna, a grande tendência é colocar sua personalidade, e ter peças únicas, lembre-se que a onda de customização começou antes com as roupas. Mas desenvolvendo-se de sua própria maneira, na decoração vimos as estampas subirem pelas paredes na forma de adesivos, e papeis de parede, e por fim em pinturas exclusivíssimas.
Voltando um pouco mais pra trás, nos anos 90, tanto na moda quanto na decoração, o bacana era comprar tudo novo. Mas a nye bølge***, talvez influenciada pela recessão – mas aposto meus botões que veio pra ficar – é reciclar, dar novos usos e nova importância a uma peça. Mistura-se uma bolsa de brechó com uma jaqueta de grife, misturam-se cadeiras de antiquário a uma manta mesa do designer uau!. É o vintage, o ecológico, e o objeto emocional****, tudo na mesma cesta. O artesanato ficou cool, e o shabby chic se estabeleceu. Mas tudo muito misturado com objetos mais modernos. (Entendendo que moderno pode ser um objeto com estilo vindo direto dos anos 50. Pois ainda não houve período mais moderno que os anos 50.) Porque estilo único não é mais bacana, afinal vivemos um tempo barroco, de tudo-junto-misturado. Ninguém elegante se veste inteiro de uma mesma marca, e nenhuma sala incrível é toda de uma mesma loja.
Então, era o que eu tinha pra hoje: quer adivinhar a próxima tendência em decoração? Mire nas passarelas e nos lookbooks. A chance de acertar é bem grande.
* A capacidade de julgar é uma espécie de sentido inconsciente (tacito quodam sensu) que todos os homens possuem. Mas que ao longo da vida vai agregando outros elementos, tais como identificação com um grupo ou pessoa, elementos de memória, e conhecimento formal adquirido.
** Quantas pessoas você conhece que estão construindo uma casa? E quantas que estão redecorando? A conta é muito simples: a população cresce, mas o planeta não. E se há poucos terrenos livres pra construção a opção é comprar construído e redecorar.
*** Já que se esgotou o inglês new wave e o francês nouvelle vague para outros tempos e estilos e modas, tasquei o dinamarquês para definir a “nova onda” dos nossos anos.
****Uma peça de família, algo que você goste, ou que te lembre alguma coisa boa ou importante. Ou uma coisa que você simplesmente a-ma.
♥ Tava aqui matutando. Será que depois desse período barroquinho passaremos por um período neo-neo-clássico? (Matutei tanto que fiz até um gráfico pra começar a tentar entender.)
Acho que nunca vou me cansar de tijolinhos pintados de branco e pisos de madeira. Certos gostos vêm de uma época em que não se tem tantas influências externas, só o tacito quodam sensu*. Mas é fato que as novas tendências em design de interiores muitas vezes vêm da última semana de moda, e isto é muito natural ♫. Afinal a matéria prima base é a mesma: tecidos, cores e estilo.
A moda tem o casulo das estações, que a impõe no mínimo 4 metamorfoses por ano. Se isso passou a acontecer com a decoração, os motivos vão desde o aumento populacional** ao aumento da velocidade de troca de informações. O nude das passarelas de ontem se transformou nos tons naturais e terrosos das paredes e estofados das mostras de decoração deste ano (embora no caso das mostras de decoração seja apenas mais do mesmo).
Mas pensemos em algo menos óbvio que o bege, a estampa pied de poule (ou houndstooth). Foi só Alexander McQueen colocar o xadrez favorito de Eduard VIII na passarela, que a estampa clássica pegou fama de rebelde, e pronto! Invadiu a decoração. (Até pelas mãos dele mesmo, o falecido enfant terrible, que reinventou a cadeira Egg.) E se na decoração mais moderna, a grande tendência é colocar sua personalidade, e ter peças únicas, lembre-se que a onda de customização começou antes com as roupas. Mas desenvolvendo-se de sua própria maneira, na decoração vimos as estampas subirem pelas paredes na forma de adesivos, e papeis de parede, e por fim em pinturas exclusivíssimas.
Voltando um pouco mais pra trás, nos anos 90, tanto na moda quanto na decoração, o bacana era comprar tudo novo. Mas a nye bølge***, talvez influenciada pela recessão – mas aposto meus botões que veio pra ficar – é reciclar, dar novos usos e nova importância a uma peça. Mistura-se uma bolsa de brechó com uma jaqueta de grife, misturam-se cadeiras de antiquário a uma manta mesa do designer uau!. É o vintage, o ecológico, e o objeto emocional****, tudo na mesma cesta. O artesanato ficou cool, e o shabby chic se estabeleceu. Mas tudo muito misturado com objetos mais modernos. (Entendendo que moderno pode ser um objeto com estilo vindo direto dos anos 50. Pois ainda não houve período mais moderno que os anos 50.) Porque estilo único não é mais bacana, afinal vivemos um tempo barroco, de tudo-junto-misturado. Ninguém elegante se veste inteiro de uma mesma marca, e nenhuma sala incrível é toda de uma mesma loja.
Então, era o que eu tinha pra hoje: quer adivinhar a próxima tendência em decoração? Mire nas passarelas e nos lookbooks. A chance de acertar é bem grande.
♥♥♥
** Quantas pessoas você conhece que estão construindo uma casa? E quantas que estão redecorando? A conta é muito simples: a população cresce, mas o planeta não. E se há poucos terrenos livres pra construção a opção é comprar construído e redecorar.
*** Já que se esgotou o inglês new wave e o francês nouvelle vague para outros tempos e estilos e modas, tasquei o dinamarquês para definir a “nova onda” dos nossos anos.
****Uma peça de família, algo que você goste, ou que te lembre alguma coisa boa ou importante. Ou uma coisa que você simplesmente a-ma.
♥ Tava aqui matutando. Será que depois desse período barroquinho passaremos por um período neo-neo-clássico? (Matutei tanto que fiz até um gráfico pra começar a tentar entender.)
MODA E DECORAÇÃO, TUDO A VER?
Reviewed by vivianne pontes
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