Bichos, cacos e o kitsch
Adoro aquela história do figurão que morreu e foram checar o inventário. Ele tinha um 'bicho' da Lygia Clark. Procura daqui, procura de lá, cadê bicho? Foram encontrar na área de serviço. A passadeira usava de suporte pro ferro de passar. De alguma maneira lembrei dessa história, quando li: "Em atitude típica das parcelas em ascensão, que não dominam bem os códigos de estilo (...), os donos daquelas casas da periferia concebiam as composições através da justaposição de elementos múltiplos e contraditórios que suas percepções pareciam lhes indicar pertencerem a gosto superior ou distintivo."
O frescor na interpretação desses "códigos de estilo" me deleita. Mesmo. Chego a dizer que uma parede com textura (beijo, Carolina!) me dá mais felicidade que uma parede-cimento-queimado. Porque o tipo de sorriso é diferente. Como aquela casa de Vila Isabel, o suprassumo do kitsch - que me dá vontade de tocar a campainha e me oferecer pra um café e conversa fora.
Sobre o kitsch, "coube à cultura alemã elaborar, mais consistentemente, uma definição do Kitsch. (...) O termo Kitsch, por ser intraduzível, foi transportado para outras línguas. (...) Haveria duas versões distintas para a origem do vocábulo Kitsch. De acordo com a primeira, ele derivaria de uma corruptela do termo inglês sketch, remontando à segunda metade do século XIX, quando turistas americanos, querendo adquirir uma obra de arte por um preço irrisório, pediam um esboço (sketch) do mesmo. Por extensão, todo material que viesse a imitar uma produção original, destinado ao consumo de experiências estéticas facilmente assimiláveis, seria denominado kitsch.
Na segunda acepção do termo, ele adviria do verbo alemão Kitschen, significando, "tirar a lama da rua" ou "reformar móveis para fazê-los parecer antigos". Outro conceito desse verbo seria o de "atravancar". Pareceria ainda, incluído nessa segunda hipótese. o verbo verkitschen, indicando vender barato ou, também, trapacear, receptar, vender alguma coisa no lugar do que havia sido combinado."
Aspas todas do livro Arquitetura Kitsch: suburbana e rural. Foto lá de cima minha mesmo. E dos cacos vermelhos da Mika Lins, que contou uma história ótima sobre esse piso de cacos vermelhos, amarelos e pretos.
Bichos, cacos e o kitsch
Reviewed by vivianne pontes
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19:04
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