02 DE FEVEREIRO É DIA DE IEMANJÁ

Quando eu era pequena, um primo do meu pai morreu afogado no mar, num dia 2 de fevereiro. Foi muito triste, era um moço novo. A família toda estava de férias na praia, as tias ficaram desesperadas, e eu, que nunca tinha tido qualquer contato com a morte, não entendia muito aquilo. Não houve enterro. O meu pai me contou então uma história, que como todas as histórias do meu pai, o big fish, misturava tudo pra tentar encantar as coisas pra mim. E eu passei a manhã de hoje tentando lembrar, mas era mais ou menos assim.

Iemanjá, mãe dos peixinhos, chamou Marabô, Kayala, Oxum, Janaína, Odoiá, Oguntê, Sobà, Oloxum, Inaiê, Iara e as sereias pra uma festa, como faz todos os anos. Estavam todas reunidas ali perto, só mulheres, quando o primo passou nadando e, encantadas com a presença do rapaz, resolveram convida-lo pra morar com elas. Mas como eram muitas, e moravam em lugares diferentes, depois de muito disputarem, combinaram que cada parte do ano ele ficaria onde morava alguma. E por isso ninguém conseguia encontra-lo: porque não se sabia em qual casa ele estaria agora, se no rio, casa da Odoiá, se num outro rio, casa da Iara, ou se no mar-oceano de Iemanjá, das rainhas do mar e das sereias.

Então, durante alguns anos, no dia 2 de fevereiro, eu achava que estava mesmo havendo uma festa no mar, e não só na praia. E pensava nesse primo de olhos azuis clarinhos.

Coleção Iemanjá, de Marcelo Rosenbaum para a Oxford.