Lustre esquenta-marmita #4
Por Carolina Mendes
A puta da vida, dando as cartas pragente assim de sopetão.
Ela dá umas de paus, umas de copas, umas de ouros e uns curingas demais e a gente faz o que pode, com as cartas que tem. Bem entendo isso. Tenho até como filosofia de vida, não esperar nunca que eu vá comprar a carta do bate assim na suavidade. Procuro ir me calçando e organizando, jogando pra não ficar só com uma carta na mão.
Sabe, parece que não, mas isso é super boa ideia. Tenho visto por aí um monte de gente que ficou sentado com um, sei lá seis na mão, esperando o bate, e o bate não veio. Aí teve que assistir o adversário pontuando e ganhando. Pode ser assim não, tem ter um plano, e ir ajustando o plano de acordo com as cartas que a vida te dá.
O bate da vez são os lustres. Tão na moda, acho. Lustres gigantescos. Mas o que são esses lustres de esquentar marmita? Esquenta marmita porque é tanta lâmpada, e ficam tão baixo que nem precisa de forno pra assar o peru de Natal. Só botar o bicho ali no centro da mesa e acender as luzes. Coisa de 2 horas o peru tá assado. Casquinha crocante e tudo.
Dançar conforme a música, ok. Mas não dançar conforme a música vestindo sua melhor roupa de 20 anos atrás. A menos que seja Chanel, e você tenha o mesmo corpo. Enfim, explico.
Outro dia fui num jantar, em um apartamento de quatrocentão falido, que tinha um lustre na mesa de jantar que era tão grande e tão baixo que não dava pra enxergar a pessoa sentada em frente. Travessas no aparador ao lado da mesa. Queria entender qual a lógica. Pessoa acha chique? Acha que dá status? Que paga de rico? Que povo num vai reparar que o entorno do lustre?
Esse é um caso. Outro caso é o dos lustres novos e suntuosos que não ornam em nada com a decoração. Será porque que o povo faz isso? Tipo ter uma lareira. Tem gente que sonha em ter uma lareira, contrariando arquitetura, clima, ambientação. Pessoa quer porque quer ter uma lareira e um lustre ilustríssimo.
E lustres temáticos? Ou lustres que eram normais até fulana comprar uma pistola de cola quente, flores de artificiais e resolver viver a vida loca. Aliás, tenho que das grandes cagadas que já fizeram no mundo foi terem deixado os chineses fazerem pistolas de cola quente que custam 0 reais. Amiga dona de casa compra um pistola dessas, assiste uns vídeos da Namaria Braga no Youtube, e parte pra customização. Minha senhora, vai fazer um curso de pompoarismo. Vai arrumar os bibelôs de cristal da sala. Vai fazer uma brazilian wax. Mas não customiza lustre com flor de plástico.
Tem também aquele povo da economia que coloca umas belas luminárias de cozinha pela casa toda. Saca aquela das lâmpadas fluorescentes compridas? Tubular? É tubular que chama? Sério, eu vou dar um toque pra vocês porque eu sou bacana: é o fim da picada ter esse tipo de iluminação em qualquer lugar que não na sua cozinha. Mesmo na cozinha eu acho desconfortável, mas aceitável. Existem opções, sério. Tanta lâmpada econômica por aí, precisa usar uma iluminação que deixa todas as visitas com cara péssima?
Falando em toques maneiros, não pinta lustre de latão com tinta spray dourada. Não era tinta spray dourada o que tinha ali. Aliás, essa coisa de tinta spray parece simples e boa idéia mas normalmente dá errado.
Escolha direito, e pendure seu lustre em cima da mesa, e não no centro geodésico da América Latina.
Grata.
♥ Carolina Mendes é paulistana, escritora e implicante.
Lustre esquenta-marmita #4
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