O GRITO E A OBRA - PARTE I
Entro em livrarias, olho, olho, e não tenho vontade de levar nada. Chego em casa e resolvo reler. Reli Alta Fidelidade, Sagarana, e agora releio Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, de Clarice Lispector. É um livro sobre a dor. A dor de alma, essa a dor metafísica, uma azia, sempre presente na obra de Clarice.
Hegel, nas suas Lições sobre a estética diz: Mesmo o Deus cristão não está subtraído à passagem pela humilhação do sofrimento, inclusive pelo opróbrio da morte, não libertado da dor da alma, grita: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?". É..., a vida, às vezes, é uma merda.
Recentemente uma amiga terminou um longo noivado, e lembrei que uma vez, ao passar por uma dor de amor, pintei 6 cadeiras, 1 armário, e fiz um projeto de cinema. Expurguei. Outro dia vi umas cadeiras parecidas com as que pintei naquela época, e queria falar disso, mas não coube. Falei agora, mostro as cadeiras que vi depois.
Outra vez fiquei doente, com dores horríveis. Bordei uma toalha de mesa. Adorno escreveu que "a dor perene tem tanto direito à expressão, como o torturado ao grito".
Dor e “arte”, pra mim, se confundem. Seja a dor física, seja a dor metafísica (essa azia). É porque, quando em dor, o que se manifesta não é lapidado pelo ego: é cru, é primário, é forte. Então resolvi aprofundar o tema. E, descobri que talvez a origem da poesia esteja no sacrifício para acalmar a fúria dos deuses e aplacar as mazelas da vida. Aquele que sacrifica sua própria expressão estabelece uma troca – simbólica.
A criatura e a dor
A dor não aparece em uma radiografia e não pode ser medida num teste. É um fantasma e não pode ser vista, ouvida ou degustada. Mas pode ser desenhada, pintada, esculpida, costurada, bordada, cantada, descrita. Com sua cara feia ou maquiada. Mas, mais uma vez, isso não é um cachimbo, pois o que vemos não é a dor. São maneiras de comunicar a dor, ou de abafar sua presença, ou de interpretá-la, e que podem transformar pessoas comuns em seres espetaculares, que transcendem a própria existência. Muitas criaturas são construídas e moldadas pela dor. Uma delas é Frida Kahlo.
Filha do fotógrafo judeu-alemão Guilhermo Kahlo, Frida teve poliomielite na infância. Aos 18 anos um ônibus no qual viajava chocou com um trem. O acidente deixou o pé direito esmagado, fraturas na coluna, na pélvis, nos quadris e nas costelas, a perna direita quebrada em doze pontos e, ferida pior: a dor de ter sido impalada por um pedaço de metal.
Parte II
Parte III
Hegel, nas suas Lições sobre a estética diz: Mesmo o Deus cristão não está subtraído à passagem pela humilhação do sofrimento, inclusive pelo opróbrio da morte, não libertado da dor da alma, grita: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?". É..., a vida, às vezes, é uma merda.
Recentemente uma amiga terminou um longo noivado, e lembrei que uma vez, ao passar por uma dor de amor, pintei 6 cadeiras, 1 armário, e fiz um projeto de cinema. Expurguei. Outro dia vi umas cadeiras parecidas com as que pintei naquela época, e queria falar disso, mas não coube. Falei agora, mostro as cadeiras que vi depois.
Outra vez fiquei doente, com dores horríveis. Bordei uma toalha de mesa. Adorno escreveu que "a dor perene tem tanto direito à expressão, como o torturado ao grito".
Dor e “arte”, pra mim, se confundem. Seja a dor física, seja a dor metafísica (essa azia). É porque, quando em dor, o que se manifesta não é lapidado pelo ego: é cru, é primário, é forte. Então resolvi aprofundar o tema. E, descobri que talvez a origem da poesia esteja no sacrifício para acalmar a fúria dos deuses e aplacar as mazelas da vida. Aquele que sacrifica sua própria expressão estabelece uma troca – simbólica.
A criatura e a dor
A dor não aparece em uma radiografia e não pode ser medida num teste. É um fantasma e não pode ser vista, ouvida ou degustada. Mas pode ser desenhada, pintada, esculpida, costurada, bordada, cantada, descrita. Com sua cara feia ou maquiada. Mas, mais uma vez, isso não é um cachimbo, pois o que vemos não é a dor. São maneiras de comunicar a dor, ou de abafar sua presença, ou de interpretá-la, e que podem transformar pessoas comuns em seres espetaculares, que transcendem a própria existência. Muitas criaturas são construídas e moldadas pela dor. Uma delas é Frida Kahlo.
Filha do fotógrafo judeu-alemão Guilhermo Kahlo, Frida teve poliomielite na infância. Aos 18 anos um ônibus no qual viajava chocou com um trem. O acidente deixou o pé direito esmagado, fraturas na coluna, na pélvis, nos quadris e nas costelas, a perna direita quebrada em doze pontos e, ferida pior: a dor de ter sido impalada por um pedaço de metal.
Durante a sua longa convalescência começou a pintar, com uma caixa de tintas que pertenciam ao seu pai, e com um cavalete adaptado à cama. "Pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade".
Goya já era pintor quando aos 46 anos, ficou temporariamente paralítico, parcialmente cego e totalmente surdo. A alegria se desvaneceu lentamente de suas pinturas, as cores se tornaram mais escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo. As guerras napoleônicas vieram e se foram, e os horrores sofridos pelos espanhóis deixaram um Goya amargo. Assim se forjou o artista das obras que conhecemos. Foi depois disso que produziu "Los Desastres de la Guerra" e suas duas obras primas "El Segundo de Mayo 1808" e "El Tercero de Mayo 1808". Pela sua mão a guerra foi descrita como fútil e sem glória, e não havia heróis, somente assassinos e mortos. No fim de sua vida Goya cobriu as paredes de sua Quinta del Sordo com as famosas "pinturas negras", as últimas e mais misteriosas de seu gênio atormentado.
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O GRITO E A OBRA - PARTE I
Reviewed by vivianne pontes
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