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O GRITO E A OBRA - PARTE II


Claramente: o mais prático dos sóis, 
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato, 
compacto de sol na lápide sucinta.

Lewis Carrol, Freud, Nietzsche, Cervantes, Chopin, Charles Darwin, Tolstoi, et cetera, viveram todos atormentados e torturados pela enxaqueca, essa senhora malvada. Mas foi João Cabral de Mello Neto quem escreveu uma ode à Aspirina. Mas isso não o livrou da dor de cabeça que não parava nunca, que vivia ao seu lado como um anjo negro velando seu despertar. 

Falo somente para quem falo:/ quem padece sono de morto/ e precisa um despertador/ acre, como o sol sobre o olho:/ que é quando o sol é estridente,/ a contrapelo, imperioso,/ e bate nas pálpebras como/ se bate numa porta a socos", escreveu. Não é a descrição clara de uma lancinante dor de cabeça?

Nos últimos anos, a cegueira o impediu de escrever, privando-o da principal arma para lidar com essa inquietação. E ele se tornou deprimido e ranzinza. O homem que um dia achou que tivesse se curado pelo amor (O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte. ) Mas a dor era maior.

Parte I
Parte III
O GRITO E A OBRA - PARTE II Reviewed by vivianne pontes on 12:45 Rating: 5

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