Gosto se discute III
Já citei Kant dizendo que 'o gosto fica entre a imaginação e o entendimento', e já contei sobre a minha experiência mais antiga, que consigo lembrar, com o gosto. (As gravuras de Harry Clarke.) Também já expliquei o porquê dessa coceira de querer discutir o gosto. Então agora, Dr. Frankenstein, vou tentar juntar as partes e dar um pé e uma cabeça pra essa história.
Bem, não sou Spinoza que ficava perguntando onde é que está a beleza, e não quero agora discutir o que é arte (este é um outro assunto), discuto o que é gosto. E o que é “gosto”?
Gosto é julgamento. E quando digo que gosto ou não gosto de uma determinada coisa, estou julgando esta coisa segundo os meus critérios. E de onde vêm esses critérios? Os critérios que formam o meu gosto vêm da minha educação, da minha experiência, e das minhas referências.
Você gosta dessa tela? Eu não. Mas quando digo que não gostei é porque as referências que tenho do Aldemir Martins, que pintou este quadro, são outras. E porque acho que parece os quadros que as senhoras pintam nas aulas do Clube da Terceira Idade (sem tirar o valor disso como outra coisa). As fichas mentais que tenho de obras de arte me são mais agradáveis que esta. Não gosto desta peça porque a comparo a outra coisa de que gosto mais, inclusive do mesmo artista:
(Com relação à caixa de Cepita, não gosto porque não me provoca prazer, não me exercita a imaginação e nem alarga o meu entendimento.)
Quem ama o feio, bonito lhe parece. Bom e mau, feio e belo, esses termos são subjetivos e pessoais, mas são sempre baseados em referências. E estas referências (ou critérios) podem e devem ser acumulados ou aprendidos ao longo do tempo. Isso é a formação do gosto.
Então, se você não tem muitas referências/critérios/fichas, acaba acreditando em qualquer coisa que alguém escolheu pra uma galeria de arte, porque esse alguém, em um mundo ideal, "sabe mais". E acaba também sem argumentos, mesmo que pessoais - até porque todo argumento de gosto é pessoal ao meu ver - para discutir o gosto.
O gosto é mergulhado de personalidade e história. Sempre. Por isso falei dos desenhos de Clarke. O moço que passou a infância com o livro desenhado por Doré é hoje um artista que vive de arte. Se procurou mais e mais arte ao longo da vida, e se atingiu uma qualidade espetacular, é porque partiu de Doré. Mas também poderia ter sido assim em outros contextos. Mas ele teve que traçar um caminho, entende? Acumular referências. E esse acúmulo de referências se confunde com vida e com experiência. E constrói o gosto. Ou melhor: forja o gosto, porque o grosso do gosto "nasce com a gente", é o tacito quodam sensu ao qual me referi no primeiro post.
Então é isso, acho que deu, o resto a gente discute numa mesa de bar.
♥ Mas os comentários geraram uma parte IV.
Bem, não sou Spinoza que ficava perguntando onde é que está a beleza, e não quero agora discutir o que é arte (este é um outro assunto), discuto o que é gosto. E o que é “gosto”?
Gosto é julgamento. E quando digo que gosto ou não gosto de uma determinada coisa, estou julgando esta coisa segundo os meus critérios. E de onde vêm esses critérios? Os critérios que formam o meu gosto vêm da minha educação, da minha experiência, e das minhas referências.
Você gosta dessa tela? Eu não. Mas quando digo que não gostei é porque as referências que tenho do Aldemir Martins, que pintou este quadro, são outras. E porque acho que parece os quadros que as senhoras pintam nas aulas do Clube da Terceira Idade (sem tirar o valor disso como outra coisa). As fichas mentais que tenho de obras de arte me são mais agradáveis que esta. Não gosto desta peça porque a comparo a outra coisa de que gosto mais, inclusive do mesmo artista:
(Com relação à caixa de Cepita, não gosto porque não me provoca prazer, não me exercita a imaginação e nem alarga o meu entendimento.)
Quem ama o feio, bonito lhe parece. Bom e mau, feio e belo, esses termos são subjetivos e pessoais, mas são sempre baseados em referências. E estas referências (ou critérios) podem e devem ser acumulados ou aprendidos ao longo do tempo. Isso é a formação do gosto.
Então, se você não tem muitas referências/critérios/fichas, acaba acreditando em qualquer coisa que alguém escolheu pra uma galeria de arte, porque esse alguém, em um mundo ideal, "sabe mais". E acaba também sem argumentos, mesmo que pessoais - até porque todo argumento de gosto é pessoal ao meu ver - para discutir o gosto.
O gosto é mergulhado de personalidade e história. Sempre. Por isso falei dos desenhos de Clarke. O moço que passou a infância com o livro desenhado por Doré é hoje um artista que vive de arte. Se procurou mais e mais arte ao longo da vida, e se atingiu uma qualidade espetacular, é porque partiu de Doré. Mas também poderia ter sido assim em outros contextos. Mas ele teve que traçar um caminho, entende? Acumular referências. E esse acúmulo de referências se confunde com vida e com experiência. E constrói o gosto. Ou melhor: forja o gosto, porque o grosso do gosto "nasce com a gente", é o tacito quodam sensu ao qual me referi no primeiro post.
Então é isso, acho que deu, o resto a gente discute numa mesa de bar.
♥ Mas os comentários geraram uma parte IV.
Gosto se discute III
Reviewed by vivianne pontes
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