Fofurices #9
Por Carolina Mendes
"Olha que gracinha."
Palavras que antecipam, no meu mundo, grande constrangimento. Talvez seja caso de terapia, mas de fotos de filhotinhos de labrador envoltos em laços de cetim vermelho, passando por golfinhos, bebês de olhos azuis deitados em repolhos, ou dentro da baldinhos, e chegando em almofadas de coração que dizem EU TE AMO, e têm bracinhos, tudo que a maioria das mulheres considera fofo, ou adorável ou motivo de exibição, me dá tanta vergonha que causa ojeriza.
Mais uma vez: talvez seja caso de terapia. Terapia pra mim, se a fofurice me incomoda mesmo em doses homeopáticas, e pra exibicionista da parafernália, se vira um estilo de vida.
Não entendo a empolgação que algumas amigas demonstram com coisas que eu acredito fazerem parte da vida íntima, mas que por algum caralho estão no sofá das suas salas.
Tipo aquela mulher linda, bem sucedida, inteligente e que tem todo o apartamento decorado em tons de rosa e dourado. Como um palácio de Versailles suspenso no no bloco C de um prédio em São Paulo. Só de imaginar aflora meu pavor a tinta spray dourada. Tudo fica motelizado. Mas a dona acha que tá abafando. Que é chique. Naonde que ela achou que isso era boa ideia? Expliquem pra babacona aqui.
Muito amor, amor demais. E eu criatura rancorosa, invejosa e recalcada não entendo, e não consigo me sentir tocada pela beleza do gesto. Pelo painel da foto ampliada do casal no hall de entrada do apartamento.
Nosso ninho de amor.
CEMIJURA?
Ë psicótico e constrangedor. E todo mundo julga. Todo mundo julga a mulher que passa do 20 anos totalmente entregue ao mundo de babados rosas, bonecas, cama de princesa, pátina provençal, voil pêssego, bichinhos de pelúcia, bonecas e cds da Jewel.
E olha que eu ouço Carly Simon. E te julgo. E minha música preferida é Strangers in the night.
É mais assustador pra mim que a solteirona de filme que vive sozinha com 30 gatos.
Poucas coisas me apavoram mais do que um tirana das fofurices. Uma mãe, esposa, namorada, noiva que enche não só o seu lado da pia e as gavetas do armário com coisas fofas, mas expande a demência pelo espaço coletivo, e particular dos outros membros da família. Sério, moça: chega. É inadequado e insustentável a longo prazo. Ninguém medianamente normal e saudável pode conseguir se sentir em casa, quando essa casa parece um imenso berçário para pôneis malditos que vomitam arco-íris.
Ninguém é fofo o tempo todo. Ninguém vive melhor cercado por golfinhos e corações tiranos espalhando amor em cada metro quadrado de tecido disponível. Barbie ficaria constrangida na sua casa. Ela acharia a sua casa cafona. Aposto que nem a Sula Miranda vive hoje cercada de cor-de-rosa.
E eu sei que parece que vocês têm grande problema com a palavra: CAFONA. E que alguém vai bradar que gosto não se discute e que na privacidade do lar cada um que faça o que quiser. Verdade. Cada um faz o que quiser, mas é sim cafona e a senhora tem sim problemas emocionais severos. Quiçá sexuais.
Pode cobrir com verniz de liberdade individual o quanto quiser, dessa vez eu tenho razão. Pura e simplesmente. PROCURE TRATAMENTO.
♥ Carolina Mendes é paulistana, escritora e implicante.
Fofurices #9
Reviewed by vivianne pontes
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